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19 de Abril de 2024
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    Mercenários brasileiros na Legião Estrangeira

    Publicado por Direito do Estado
    há 16 anos

    Atraídos por salários, a chance de apagar o passado e aventuras, dezenas de brazucas alistam-se, todos os anos, no legendário exército de aluguel francês. Nossa repórter conseguiu deles revelações sobre a condição de soldados de um pátria alheia, em missões cujo sentido desconhecem

    Maranúbia Barbosa

    Brasileiros jovens estão pondo a mochila nas costas e deixando o país para se alistar na Legião Estrangeira — unidade de elite do exército francês, composta por cerca de 7 mil estrangeiros de mais de 130 nacionalidades diferentes. Estima-se que pelo menos cem brasileiros são contratados a cada ano pelo legendário exército que defende os interesses da França mundo afora, sobretudo em áreas conflituosas.

    O número exato de brasileiros não é divulgado pela Legião Estrangeira. Porém, de uns cinco anos para ca , a procura tem aumentado, mesmo sabendo que ao vender seus serviços para a França estão se expondo a riscos de morte.

    Medo parece não ser problema para os brasileiros e, muito menos, para outros estrangeiros. Todos os anos, mais de 5 mil candidatos do mundo inteiro batem à porta desta composição militar. Mas somente cerca de 800 deles conseguem dar conta de passar pela bateria intensiva de testes físicos e psicotécnicos.

    Essas informações são dos próprios legionários, entre os quais o brasileiro Marcos dos Santos, 32 anos. Natural de Itapira (SP), ele serve, há três anos, no 2º Regimento Estrangeiro de Pára-quedistas (REP) — tropa considerada crème de la crème da Legião — em Calvi, cidade na ilha da Córsega. Segundo ele, não são os polpudos salários (que vão de 1,5 mil euros até mais de 5 mil para quem prossegue na carreira), e sim o espírito de aventura, que move a maioria dos soldados. Muitos deles parecem, também, ser guiados por um velho slogan da Legião ainda em voga: "chance de mudar de vida, qualquer que seja a origem, nacionalidade, religião, diplomas, nível escolar, situação familiar ou profissional".

    Nenhum candidato é obrigado a fornecer a verdadeira identidade. Incorporado, o legionário passa a ser uma "pessoa não-civil", alguém que não existe juridicamente para o mundoMesmo nos dias atuais, o engajamento na Legião ainda é envolto em lendas e controvérsias. Ao se alistar, o candidato não é obrigado a fornecer a verdadeira identidade e nem relatar nada do que já viveu. Ele tem o anonimato assegurado e é protegido de qualquer ingerência relativa ao seu passado, graças a um decreto-lei francês de 1911. O legionário é juridicamente uma "pessoa não-civil", ou seja, por ser portador de uma identidade fictícia, não existe de fato. Por conseguinte, não pode se casar, nem tirar carteira de motorista, nem comprar imóveis ou veículos. Em suma, o soldado só existe para a Legião Estrangeira. Independente do estado civil, ele é considerado solteiro e sem vínculos familiares. Salvo em raríssimas exceções, ele pode obter a real identidade antes do término do contrato.

    Engajados por um período compulsório de cinco anos, sem nenhum direito a desistência antes do prazo, os legionários estão sujeitos a uma disciplina severa dentro e fora da caserna. Prisão por deserção, tolerância zero para toda e qualquer falta, tratamento rude — "na porrada" mesmo, segundo Santos. Essas são só algumas das condições aceitas sem pestanejar por estrangeiros que salvaguardam os interesses de uma das sete potências mundiais e que cumprem sem titubear as letras miúdas do contrato. Esse, diga-se de passagem, é assinado logo de cara, na primeira semana, mesmo por aqueles que não falam uma só palavra da língua francesa. "Assinamos um papel atrás do outro, sem tradutor nem nada. A gente entrega a vida para eles no ato" , afirmou Santos.

    Uma investigação minuciosa impede o recrutamento de condenados por crimes comuns, apesar de que "delitos leves" são relevados. Não existe, no entanto, definição do que a Legião Estrangeira entende por delitos de pouca importância. Pelo código da unidade, terroristas e demais criminosos procurados pela Interpol não são aceitos em nenhuma hipótese.

    Asiáticos, europeus do leste e latino-americanos (com destaque para os brasileiros) somam 70% da Legião Estrangeira. Franceses mesmo, só 19%A maior parte dos legionários, cerca de 70%, vem de países que não falam francês. Em 2005, dos 900 novos engajados, 32% eram de eslavos provenientes do Leste europeu, sobretudo da Romênia, Rússia e ex-repúblicas soviéticas. Em seguida, vieram os latino-americanos, 24,5%, com destaque disparado para o Brasil. Soldados de nacionalidade francesa ou originários de ex-colônias somaram 19%. Os asiáticos, especialmente os chineses, são numerosos.

    Além dos benefícios trabalhistas, sociais (férias, seguro-saúde e conta em banco, por exemplo) e toda a documentação concedida por um país conhecido por respeitar os direitos do homem, eles ainda podem requerer a cidadania francesa ao cabo dos cinco anos de serviço. O direito é assegurado por lei, bastando para isso apresentar um atestado de boa conduta expedido por um comandante da Legião Estrangeira às autoridades competentes.

    Os legionários recebem seus vencimentos quase que totalmente livres de despesas. As refeições feitas no quartel são gratuitas de segunda a sexta-feira, e nos finais de semana pagas à parte (cerca de 4 euros – cerca de 10 reais). Aos salários iniciais, em torno de mil euros para quem serve no continente e de 1,5 mil para os alojados na ilha da Córsega, juntam-se os prêmios e bonificações pagos, quando os soldados partem em missões fora do território francês. Conforme o caso, os soldos podem até triplicar.

    A reportagem tentou por diversas vezes contato por telefone e email com um dos quartéis da Legião Estrangeira na região de Paris, mas não foi atendida.

    Desde que ingressou nas fileiras da Legião Estrangeira, em maio de 2005, o ex-piloto de helicóptero Marcos dos Santos já partiu em missões de prevenção em países como o Djibuti e Costa do Marfim (na África), e Nova Caledônia, possessão francesa na Oceania. Segundo Santos, os legionários recebem as instruções sobre o que vão fazer poucos dias antes do embarque. As missões duram de três a quatro meses.

    Viajar sem conhecer o país de destino, os problemas lá vividos ou os interesses da França no local não é problema. "Somos mercenários", afirma legionário brasileiroSantos disse que o fato de viajar às cegas, sem conhecer com detalhes os problemas políticos e sociais dos países para onde é mandado, sem entender bem porque a França envia tropas para lá, fere sua ética, mas não chega a lhe tirar o sono, e pelo jeito nem o bom humor. "Somos mercenários, esqueceu?", comentou, rindo.

    Santos deixou uma vida financeira e profissional estável no Brasil e desembarcou no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, indo direto ao quartel Fort Nogent, em Fontenay sous Bois, cidade na periferia leste da capital francesa. Tinha a frase em francês decorada na ponta da língua: "Eu quero me alistar na Legião Estrangeira". Ele passou por exames médicos e psicotécnicos durante uma semana. "Eles querem ver se o sujeito é muito retardado", satirizou.

    Na Legião, Santos, divorciado e pai de um menino de oito anos, teve mantida a nacionalidade brasileira, mas ganhou outra identidade: Roberto da Silva, literalmente seu nome de guerra. Depois da pré-seleção, foi levado para o quartel de Castelnaudary, na cidade de Aubagne, sul da França, onde ficou quatro meses sendo submetido, continuamente, a uma série de rigorosos testes físicos e psicológicos.

    O legionário disse que a experiência em Aubagne beirou os limites do suportável. Conforme Santos, quem não tem muita estrutura emocional "bate os pinos cedo". A pressão a que são submetidos é intensa, relatou. "Assim que chega, a gente é obrigado a aprender os hinos e o código de honra da Legião em francês, repetindo as frases como papagaio, sem saber o que está cantando, como numa lavagem cerebral. E debaixo de pontapé". Santos contou também que o candidato que não decora direito as letras do hinário é obrigado a passar a noite fazendo flexões e lavando banheiro.

    Nos finais de semana, folga e direito de ir à cidade. Mas nada de discotecas, baladas com mulheres ou bares mal-afamados. "Somos controlados. Temos que ter um comportamento exemplar"Dono de uma saúde perfeita, Santos pôde se dar ao luxo de escolher onde iria servir na Legião. E ele escolheu justamente o regimento mais difícil — o dos paraquedistas, os mais expostos em situações de combate. "Eu sabia que era ralação, mas quis assim mesmo. Por aventura. Verdade mesmo" , garantiu, sério.

    A rotina na ilha da Córsega, contou Santos, se resume a fazer faxina, cuidar das fardas, lustrar botas, praticar exercícios físicos e estar sempre "ligado", pronto para ser chamado a qualquer hora do dia ou da noite. Nos finais de semana, impecavelmente uniformizados, os legionários são liberados para ir à cidade, apesar de que nem tudo o que diz respeito à vida mundana é permitido. Nada de discoteca, de baladas com mulheres ou bares mal afamados. "Somos controlados. Temos que ter um comportamento exemplar" , acrescentou.

    Ainda que convicto do que faz, Santos não recomenda a ninguém o alistamento. "Não me arrependo. Queria conhecer o mundo, me aventurar. Ninguém morre antes da hora. O que não posso fazer é enganar os que querem vir, dizer que isso aqui é fácil. Eu mesmo não sei te falar se vou agüentar até o fim. Tem uns caras que não suportam e caem fora", alertou. O legionário disse que não sabe se vai pedir a cidadania francesa. "Não faço planos", concluiu.

    Caso fique até o final do contrato, que termina em dois anos, Santos pode trazer para casa, por baixo, mais de 50 mil euros. Para isso, além de economizar, ele ainda tem que sair ileso de missões em países como o Gabão, Afeganistão, Kosovo ou qualquer outro lugar do mundo onde estoure um conflito que afete a França.

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    43 Comentários

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    O termo mercenário não se aplica a Legião. Legião estrangeira é parte do exército regular francês que sofre com falta de contingente. Não gostei do texto é tendencioso e falta com a verdade.
    A Legião é uma oportunidade para muiots e quem pensa que pode ser bandido, esqueça ... sua vida é revirada pela interpol ... não aceitam bandidos na Legião .... isso foi no passado, época pré Vietnam , Argélia e etc .... agora o alistado pode fazer carreira e ascender, com direito inclusive a receber aposentadoria. continuar lendo

    ola!!
    deixar um bizu para quem pretende ingressar nas fileiras da legião>
    aos que quiserem se aventurar nesse novo mundo, primeiro venham direto para Aubagne 1º RE, como não existe passagem aérea direto para Aubagne, compre sua passagem para Marselha, do aeroporto de Marselha pegue um taxi para estação Saint Charles, na estação de Marselha compre um bilhete para Aubagne 15 minutos de viagem apenas, quando chegar na estação de Aubagne pegue um taxi para o quartel da legion etrangere, pronto essa é a melhor forma de chegar na legiao sem ter que perder tempo em PILES continuar lendo

    Olá guerreiro,tenho 18 sobre no processo brasilheiro,gostaria de saber como faço para poder ser um guerreiro da legião estrangeira,vc pode me ajuda ? Estou disposto a abrir mão da minha vida pacata no Rio de Janeiro,vc guerreiro poderia me ajudar ?? continuar lendo

    Tenho 18 anos sou brasileiro e moro no Rio de Janeiro,gostaria saber qual é o processo,para me torna um guerreiro da legião estrangeira? continuar lendo

    Bom dia gostaria de saber como faço pra ir pra legião não servi no Brasil por que Não tive oportunidade de defender meu país pois gostaria de saber se tenho vagar na legião e defender outro país com a mesma força de vontade... continuar lendo

    segundo passo, preparação física e psicológica,
    bem físico: existe uma corrida chamada luc leger que consiste em fazer no minimo 7 parlier, essa corrida você corre de um ponto a outro ao som de um bip sonoro, a distancia de um ponto a outro é de 20 metros, um parlier equivale a 6 voltas completas ou seja 120 metros, flexões de braço no site pede 4 mais garanto que pra e classificar no minimo faça 12, tem que subir uma corda de 5 metros dependo do caporal que estiver examinando ele deixa você usar as pernas para ajudar a subir, porem treinem sem usar, tem também abdominais no minimo 40 aconselho 100 ou mais, exame medico também reprova, nada de uso de anabolizantes e outros medicamentos que possuam hormônios que mecham com metabolismo, se tiver usado drogas em pouco tempo também aparecera nos exames, antes de vir façam exames como e fossem ser atletas e vejam os resultados se forem favoráveis venham, enquanto ao psicológico não tem como da um bizu pois o daqui é único, mais se você faz esses exames de empresa e se sai bem aqui também não sera difícil. detalhe muito mais muito importante não mintam, se mentir aqui é pedir pra voltar pra casa ou apanhar muito, como o Santos falou na historia dele aprendam o que poderem antes de vir sobre o idioma francês, não é obrigado saber falar para entrar na legião, porem seus coro vai agradecer quando você for cantar ou falar o código do legionário, repito aqui se leva muita porrada por tudo, espero ter ajudado aos que querem ser um legionário. continuar lendo

    obs quando falei em flexões de braço me referi as barras, as flexões são importante pois qualquer vacilo se paga de 20 a 50 aqui continuar lendo

    Como faço para me torna um guerreiro da legião estrangeira? continuar lendo

    Como faço para me torna um guerreiro da legião estrangeira? continuar lendo

    qusl seria o processo para me torna um soldador da legião estrangeira? continuar lendo

    Marcos Fernandes, boa tarde, pelo seu texto percebo que você tem um certo conhecimento sobre o assunto. Tenho bastante interesse de ingressar em forças policiais ou militares. Se possível, me passe o seu número de whatsapp, gostaria de tirar algumas dúvidas com você. continuar lendo

    Lutar por outro pais é crime? continuar lendo